Os ideais positivistas, que norteavam a jovem
república do final do séc. XIX, imprimiram profundas
mudanças no país. "Ordem e progresso" sintetizava um novo
referecial e não demorou para que os mineiros imaginassem
para si uma nova capital, mais condizente com a grandeza do
Estado. Seria um contraponto à antiga, anacrônica, colonial
e imperial Vila Rica (Ouro Preto), que com suas apertadas
ladeiras e casarios centenários parecia comprimir as
impetuosas esperanças republicanas. Além disso, o sonho de
uma nova capital era antigo, acalentado já na época da
inconfidência.


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Após longas discussões e acalorados
debates no Congresso Mineiro, ficou definido, em 17
de dezembro de 1893, que o local mais adequado para
se construir a capital do Estado de Minas Gerais era
a região do Curral Del'Rei, já habitada desde os
primórdios do séc. XVIII. A capital, inicialmente
chamada de "Cidade de Minas", foi inaugurada no dia
12 de dezembro de 1897 por Bias Fortes, presidente
de Minas (1894-98).
A primeira cidade planejada do país foi
construída a partir de uma concepção urbanística
elaborada pelo engenheiro paraense Aarão Reis. Ele
queria enfatizar a modernidade e a desenhou prevendo
separar os setores urbano e suburbano, delimitados
pela avenida do Contorno. Grandes avenidas, ruas
largas, quarteirões simétricos, um parque central...
Tudo que lembrasse Paris, Washington, e colocasse
Belo Horizonte entre as grandes cidades do mundo. A
realidade foi maior que o sonho e muitas previsões
estavam erradas. A cidade cresceu além do esperado. |
Inspirados por um belo horizonte que alimentava
sonhos, os habitantes pediram ao Governo Provisório do
Estado que mudasse oficialmente o nome "Cidade de Minas"
para "Belo Horizonte". A mudança só ocorreu em 1906, através
de um decreto expedido pelo então governador João Pinheiro
da Silva.
Voltemos pois à história do antigo
Curral Del'Rei. O primeiro habitante foi o
bandeirante João Leite Ortiz, que fundou a Fazenda
do Cercado no início do séc. XVIII. Em função do
grande número de escravos que possuía, Ortiz não
perdeu a oportunidade de explorar os córregos
auríferos que ali existiam. Não encontrou muita
coisa. Mesmo assim se fixou na região, rica em belas
paisagens e com terra boa para a agricultura. Pouco
a pouco um pequeno arraial se formou, apoiado na
lavoura e no trânsito constante de tropeiros. A
Freguesia Eclesiástica do Curral Del'Rei foi
confirmada por Ordem Régia em 1750.
Parauna, Barbacena, Juiz de Fora,
Várzea do Marçal e Curral Del'Rei concorriam ao
posto de capital do Estado, que até então era de
Vila Rica, atual Ouro Preto. Havia grupos que
defendiam a permanência da capital de Minas em Vila
Rica (os "não-mudancistas"), pois desta forma
existiriam menos despesas. Contudo, a mudança da
capital teve importante papel na preservação
histórica da cidade de Ouro Preto. A ilustre Vila
Rica certamente teria suas relíquias e santuários
destruídos em função do progresso. |
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"Belo
Horizonte tornou-se o cérebro de Minas; o coração continuou
em Ouro Preto."
Augusto de
Lima Júnior (governador interino de Minas em 1891)
A escolha de Belo Horizonte se deu
principalmente por suas qualidades climáticas e
topográficas. Ficou comprovado que o terreno da cidade era
mais seco, portanto não necessitava de prévia drenagem. As
condições se prestavam a um sistema perfeito de esgotos e
águas pluviais. Várzea do Marçal, forte concorrente,
enfraqueceu-se em função de suas péssimas condições para
construção de rede de esgoto. A área era alagadiça, sujeita
a infiltrações, com lençol de água muito superficial.
Em 17 de dezembro de 1893 Afonso Pena, na
ocasião presidente de Minas Gerais (1892-94), promulgou a
lei que designava Belo Horizonte para ser a capital do
Estado. O prazo mínimo para a transferência definitiva do
governo era de 4 anos. O tempo foi insuficiente e a cidade
teve que ser inaugurada às pressas, ainda poeirenta e com
prédios a construir. Sua consolidação levou anos. Mudar uma
capital realmente é uma obra colossal!
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